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"Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:"
António Jacinto (poemas de 1961)
A TERRA PROMETIDA
Já lá vão mais de 40 anos (precisamente 41 anos) e ainda lhe sinto os cheiros: da terra, da savana, da mata, dos cafezais, dos rios e ribeiras, das mangas, dos mamões e dos abacaxis.
Quando deitado, não sei se durmo ou sonho, mas sei, isso sim que, de vez em quando, vejo a Lua com um tamanho desmesurado e uma cor que me aconchega e conforta; outras vezes, fecho os olhos e lá está aquele Sol cor de laranja, afogueado, na linha do horizonte, derradeiramente a arder por pouco mais tempo.
Recosto-me no sofá, encosto a cabeça e de pálpebras cerradas, de repente, vejo o Sol abrasador desaparecer; as nuvens negras tomarem de assalto o firmamento e o ribombar dos trovões largarem raios e coriscos por todo o lado; a água a cair em catadupas e a terra ressequida (como o rosto desidratado e sulcado pelas rugas das pessoas muito idosas) a engolir toda aquela tormenta com tanta sofreguidão que, logo, logo, se engasga e deixa que se espraie num turbilhão pelo imenso sertão e, sem cerimónia, tudo arraste até encontrar as artérias caudalosas que a guia até ao Oceano Atlântico.
Este meu estado de espírito, diz-me a razão, é fruto do meu estado emocional, mas, diz-me mais: que se eu estiver num local tranquilo em contacto com a natureza, afastado de todo o stress destas vidas agitadas que levamos, hoje em dia, temos a oportunidade de pensarmos e de encontrarmos respostas para as quais até agora não tivemos tempo. Uma vez aí (nesse meio-ambiente), o meu eu liberta-me para pensar mais com a emoção e este facto é para mim libertador.
Ora o Songo, onde vivi 18 meses, é uma pequena vila situada num planalto entre as serras do Uíge e da Mucaba, a norte do Uíge/Angola, perfeitamente inserido na natureza onde tudo estava em harmonia (guerra à parte). Será talvez por isso, que sinto, hoje, que esta é também a minha terra prometida (pois que dos angolanos o é naturalmente)? Sim, porque quando me transporto (em pensamento) para lá, eu, sinto-me bem, sinto-me tranquilo, sinto-me em paz, sinto-me fortalecido capaz de fazer muitas coisas. Tudo. Nem que este "tudo" seja apenas olhar para os fenómenos da natureza, que lá se revelam de uma forma invulgarmente exuberante.
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Vem, isto, a propósito do dia 11 de novembro, a Independência de Angola.
Dia em que o povo português transferiu para o povo angolano a soberania do território que vinha administrando há quinhentos anos.
Durante todos estes anos, os dois povos, foram caldeando relações, amizades e culturas que se tornaram indissolúveis.
Por tudo isto, quero dar os parabéns a todos os angolanos em geral e aos songuenses em particular, com um abraço fraterno.
Preservem a vossa independência, e estimulem a vossa democracia, para o bem comum.
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