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Uma lição de vida
Enquanto crescia, ouvia a minha mãe dizer – querida mãe que
não tinha a quarta classe – «que não podíamos gastar mais do que aquilo
que recebíamos, e se recebíamos dez, só podíamos gastar nove».
Hoje, em minha casa, eu e a minha mulher, que, por acaso, ou
talvez não, também ouvia dizer isto à sua mãe, seguimos este ensinamento e não
nos temos dado mal. Ah, sim, claro que não nos esquecemos de o passar à filha.
Pensava (eu) que esta máxima também se aplicava a quem gere
um país. Até por maioria de razões, pois o dinheiro do estado é do povo e não
de quem o governa.
Porém, ao tomar conhecimento do Orçamento Geral do Estado,
2018, deste nosso país – Portugal – fiquei pasmado. Não é que tudo o que se
ganhou este ano foi-se todo e, olhem, que foi muito, até sobraram mil milhões
de euros de receita, acima da despesa! Não. Não sei o que isso é, mas é muito;
e aqui é que começa a minha burrice, pois não é que ao invés de se aforrar
metade e, vá lá, com a outra metade se alargasse o cinto… Mas não, gastou-se
tudo! Sim, lá se foi tudo nesse alargar de cinto.
E se amanhã nos acontecer alguma coisa, ou pior, já
aconteceu: metade do país ardeu e há mil casas e quinhentas empresas para
reerguer, e com que dinheiro o vamos fazer? Vamos pedir emprestado? Mas, outra
vez! Será que temos mesmo dificuldade em compreender as coisas! Como é possível,
no século XXI, e com tantos estudos, não percebermos aquilo que as nossas mães
e as nossas avós, dos séculos XX e XIX, a maioria delas sem a quarta classe e
muitas sem saberem ler nem escrever, sabiam, percebiam e aplicavam aquela regra
básica na gestão orçamental doméstica, quando tinham dinheiro, é claro! Qual é
a parte da equação que os nossos governantes não entendem?
Será que estamos condenados a periodicamente (o que vem
acontecendo desde, pelo menos, 1892) andarmos de mão esticada, por esse mundo
fora, a pedir dinheiro emprestado?
Não. Eu não o quero, para mim, para os meus filhos e para os
meus netos, basta de vergonha e de apertos de cinto.
Estou aposentado há 13 anos e desde que me reformei nunca
mais fui aumentado e, pior, com a crise até me levaram algum dinheiro; mas
entendo perfeitamente que perante esta catástrofe que nos atingiu tão
violentamente, não me aumentem por mais um ano, e com esse dinheiro se acuda às
pessoas que sofreram (sofrem) com os incêndios e, no próximo ano, então se
proceda aos aumentos a que tenhamos direito. Ninguém morria por isso. E com
isto se geria (a meu ver), inteligentemente, por um lado, as exigências da
União Europeia no cumprimento orçamental - garças a Deus, é-nos exigido isto, o
que seria se não existisse a UE? – por outro, as dos parceiros da coligação
que, legitimamente querem agradar ao seu eleitorado, dando-lhes mais dinheiro.
Mas ao governo compete-lhe gerir com inteligência,
sensibilidade e mestria a coisa pública, dentro destes parâmetros a que, aliás,
se propôs.
Se assim não for, e parece que não o é, resta-nos esperar
que a conjuntura nos ajude e os nossos governantes entendam, por uma vez, que
não se pode governar a qualquer custo, e olhem, com olhos de ver, para além do
umbigo.
Desculpem a minha irritação.