EM JEITO DE HOMENAGEM AO PIONEIRO E FUNDADOR DO SONGO
Porque foi no mês de abril (não há registo do dia) de 1921, que um jovem ambicioso, determinado, corajoso e trabalhador se fez ao caminho (calcula-se que na companhia de alguns autóctones por si contratados para o ajudarem) por entre matas e estepes, atravessando montes, vales, rios e ribeiros e chegou, já muito depois da hora do almoço, a um planalto para lá da Serra do Uíge, junto a um Rio que nascia um pouco mais a cima, num lago que se formava da água que brotava da terra. Olhou à sua volta e na imensidão de terra plana não havia viva alma nem nenhuma edificação, apenas capim e alguma vegetação. Decidiu que seria ali que ele iria viver. Deitou de imediato mãos à obra (literalmente), pois abril era tempo de chuvas ainda e urgia ter abrigo; e com a ajuda dos homens que havia contratado, por volta das dez horas do dia seguinte já tinha construído a casa onde se abrigar e guardar a mercadoria que transportava consigo. Estava no Reino do Congo, bem ao norte de Angola. Este homem era ANTÓNIO CORDEIRO DE OLIVEIRA, que assim se tornara, há 99 anos, pioneiro e fundador do SONGO, lugar que batizara com o nome do Rio Songo que lhe regava as terras e matava a sede.
Este homem, com os predicados que se lhe apontam, era bem o retrato dos milhares de outros que se aventuraram em terras de Angola e com os indígenas fizeram um país imenso que vai de Cabinda ao Cunene. Aliás, como o afirmou o próprio quando lhe quiseram fazer uma estátua, ele não a aceitou e, em alternativa, propôs que se fizesse antes um monumento aos Pioneiros do Songo de várias raças, como acabou por ser feito e ainda se perpetua no lugar onde foi edificado.
A primeira casa de António Cordeiro de Oliveira, terá sido muito parecida com esta que retirei da Internet. (casa de pau a pique). Não, não estou a brincar, é um estilo de casa africana.
Às gentes desta terra, aqui fica um poema do Cancioneiro Popular do Songo:
" Pequenina e graciosa (Songo)
A linda vila do Songo
É mesmo um botão de rosa
Neste jardim, que é o Congo.
Trabalhemos juntos (Refrão)
De alma e coração
Somos o orgulho
Da circunscrição.
Diziam que eu era pobre (Bembe)
Em tempos que já lá vão
Mas, afinal, tenho cobre
Mesmo debaixo do chão.
Trabalhemos juntos... (Refrão)
Muito alta e sobranceira (Serra da Canda)
Vejo o Uíge e vejo o Songo
Dou passagem p'ra fronteira
Sou o flagelo do Congo.
Trabalhemos juntos... (Refrão)
Muitas vacas, muitas vacas (Toto)
Com um Cid Adão por pastor
Tenho água e tenho luz
A atestar o meu valor.
Trabalhemos juntos... (Refrão)
Tenho saudades do passado (Ambriz)
Em que eu fui um primor
E o Mestre António, coitado,
É que foi meu fundador.
Trabalhemos juntos... (Refrão)
Hoje o café deu o pio (Angola e a crise dos anos 1930)
E eu ando a piar também
O que eu fui e o que eu sou,
Só Deus sabe e mais ninguém!
Trabalhemos juntos... (Refrão)
Leve p'ra bem longe o demónio,
Esta crise do dialho
E diz agora o Mestre António:
«Mas p´ra que foi tanto travalho!»"
(Autor desconhecido)
Dados, poema e fotos retirados do livro "ANGOLA/Colonização Descolonização" de Fernando Paula Vicente - Major General.