Um homem vestido de preto dos pés à cabeça, apenas uma ranhura à altura dos olhos, misterioso! quem será? Que meditará? Será ele um poeta que, como Camões há 500 anos, invoca as Tágides do Tejo a inspirarem-no na construção dos seus futuros versos?
Canto I - estrofe IV e V
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mim um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mim vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloquo e corrente,
Porque de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.
Dai-me uma fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tando ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Luís de Camões
Biblioteca ULISSEIA
de autores portugueses,
introdução: Silvério Augusto Benedito,
notas: António Leitão
2ª edição
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