Furriéis: Magalhães e Cardoso na messe |
Uma terra rica, onde algumas culturas frutificam duas vezes no mesmo ano! Isto para não falar das riquezas do subsolo, petróleo, diamantes entre outros… generosa, ainda, no índice de nascimentos que é elevadíssimo! Eu sei, que nascimento não é o mesmo que natalidade. Eu sei. Mas não é disto que quero falar. Um Continente onde há tanta gente a morrer de fome, de sede, de doenças endémicas, dizer-se que a Natureza é mais generosa, dito assim, até parece uma contrassenso.
TROVOADAS! Pois é, é disto que me proponho falar neste pequeno apontamento de memórias. É que também em matéria de intempéries, nesta região de África, quando a Natureza decide dar, fá-lo em abundância.
Violentíssimas tempestades eclodem de repente do nada! E à mesma velocidade com que aparecem, desaparecem!
Na época das chuvas, quase todos os dias durante trinta a quarenta e cinco minutos chove torrencialmente. Está Sol e de repente enormes nuvens baixas, negras e fantasmagóricas, cobrem o céu e, com uma ferocidade inaudita, largam água a cântaros deixando tudo completamente alagado. Terminado o dilúvio as nuvens desaparecem e o céu abre-se ao astro-rei que, indiferente ao que acabara de acontecer, radiante volta a brilhar e meia hora depois, da chuva, nem vestígios; quando faz Sol é de derreter! Fá-lo com tal severidade que até os animais de grande porte como, por exemplo, o elefante se não se abriga tomba; quando troveja é de uma inclemência assustadora. Uma coreografia sinuosa de luz aos ziguezagues seguida pelo ribombar dos trovões ecoa por todo lado, é verdadeiramente desconcertante e atemorizante. Os raios pegam fogo ao capim aqui, queimam uma árvore mais isolada ali, é medonho.
Em África, às vezes, as trovoadas surgem do nada! Está um lindo dia de Sol sem nuvens e, de repente, ouve-se um trovão sem se saber de onde surgiu! Olha-se então para o ar a fim de descortinar a razão de ser de tal estrondo, e, além, na imensidão do azul céu, vê-se uma pequena nuvem, eis aí a causa de tamanho estrondo!
A propósito, num lindo dia de Sol, logo pela manhã, eu e o Cardoso fomos a Carmona, se a memória não me atraiçoa, fazer exame de condução. Quando regressámos ao Quartel já passava muito da hora do almoço, o Sol ia alto e o calor apertava severamente. Na messe não se via nenhum graduado, apenas o faxina, pachorrentamente, ia arrumando a loiça do almoço. Este, ao ver-nos chegar pergunta se queremos comer e logo se apressa a pôr a mesa. Já no decorrer da refeição, de repente, ouvem-se vários estampidos (tipo rajada) seguidos de um forte estrondo que nos fez atirar para o chão! Voou a mesa e com ela toda a loiça e naturalmente a comida. Ficámos os dois estendidos no abrigo do chão da messe. Passados alguns segundos, apesar de sentirmos o coração a palpitar conseguimos reflectir e, depois de olharmos um para o outro, encolhemos os ombros minimizando o acontecido e levantámo-nos! – Tínhamos agido reflexivamente, depois dos treinos e dos tiros reais da guerra aprendemos a reagir ao mínimo estampido procurando um abrigo –, contudo, indagámos sobre o motivo de tais estampidos e logo o encontrámos: um sulco esculpido no cimento do chão indica o que acontecera, um raio atravessara a messe de Leste para Oeste! Daí as chicotadas seguidas do estrondo. Olhámos para o céu e vimos duas pequenas nuvens lá para os lados da serra do Uíge, a razão de ser deste fenómeno.
Mas não há nada como assistir a uma trovoada à noite em África, é algo que jamais se esquece. Eu gosto de o fazer da janela do meu quarto que está voltada para a Serra do Uíge. À noite a serra é escura como breu, mas os relâmpagos iluminam a montanha e podem ver-se até os grossos pingos de chuva a caírem com uma intensidade estonteante, as folhas das árvores adquirem nestes momentos uma cor azulada e os raios ziguezagueiam em queda livre esventrando a copa das árvores e logo são engolidos pela escuridão da noite que estremece com o ribombar do forte trovão! É um espectáculo. Temeroso, nostálgico, mas de uma beleza indescritível.
As trovadas são responsáveis pela maioria das queimadas (algumas são provocadas pela acção do homem), a faísca pega fogo a uma árvore ou ao capim e a estepe arde durante dias a fio. Também isto é um espectáculo, sobretudo à noite, ver a linha sinuosa do fogo subir e descer os montes lá longe… o fogo carboniza tudo o que se lhe atravessa no caminho, a flora e a fauna são engolidas com uma voracidade sem contemplação nem dó. Só o verde da floresta o consegue dominar pondo-lhe fim.
Eis outro acontecimento, nostálgico, da África imensa que retenho na memória para sempre.
Violentíssimas tempestades eclodem de repente do nada! E à mesma velocidade com que aparecem, desaparecem!
Na época das chuvas, quase todos os dias durante trinta a quarenta e cinco minutos chove torrencialmente. Está Sol e de repente enormes nuvens baixas, negras e fantasmagóricas, cobrem o céu e, com uma ferocidade inaudita, largam água a cântaros deixando tudo completamente alagado. Terminado o dilúvio as nuvens desaparecem e o céu abre-se ao astro-rei que, indiferente ao que acabara de acontecer, radiante volta a brilhar e meia hora depois, da chuva, nem vestígios; quando faz Sol é de derreter! Fá-lo com tal severidade que até os animais de grande porte como, por exemplo, o elefante se não se abriga tomba; quando troveja é de uma inclemência assustadora. Uma coreografia sinuosa de luz aos ziguezagues seguida pelo ribombar dos trovões ecoa por todo lado, é verdadeiramente desconcertante e atemorizante. Os raios pegam fogo ao capim aqui, queimam uma árvore mais isolada ali, é medonho.
Em África, às vezes, as trovoadas surgem do nada! Está um lindo dia de Sol sem nuvens e, de repente, ouve-se um trovão sem se saber de onde surgiu! Olha-se então para o ar a fim de descortinar a razão de ser de tal estrondo, e, além, na imensidão do azul céu, vê-se uma pequena nuvem, eis aí a causa de tamanho estrondo!
A propósito, num lindo dia de Sol, logo pela manhã, eu e o Cardoso fomos a Carmona, se a memória não me atraiçoa, fazer exame de condução. Quando regressámos ao Quartel já passava muito da hora do almoço, o Sol ia alto e o calor apertava severamente. Na messe não se via nenhum graduado, apenas o faxina, pachorrentamente, ia arrumando a loiça do almoço. Este, ao ver-nos chegar pergunta se queremos comer e logo se apressa a pôr a mesa. Já no decorrer da refeição, de repente, ouvem-se vários estampidos (tipo rajada) seguidos de um forte estrondo que nos fez atirar para o chão! Voou a mesa e com ela toda a loiça e naturalmente a comida. Ficámos os dois estendidos no abrigo do chão da messe. Passados alguns segundos, apesar de sentirmos o coração a palpitar conseguimos reflectir e, depois de olharmos um para o outro, encolhemos os ombros minimizando o acontecido e levantámo-nos! – Tínhamos agido reflexivamente, depois dos treinos e dos tiros reais da guerra aprendemos a reagir ao mínimo estampido procurando um abrigo –, contudo, indagámos sobre o motivo de tais estampidos e logo o encontrámos: um sulco esculpido no cimento do chão indica o que acontecera, um raio atravessara a messe de Leste para Oeste! Daí as chicotadas seguidas do estrondo. Olhámos para o céu e vimos duas pequenas nuvens lá para os lados da serra do Uíge, a razão de ser deste fenómeno.
Mas não há nada como assistir a uma trovoada à noite em África, é algo que jamais se esquece. Eu gosto de o fazer da janela do meu quarto que está voltada para a Serra do Uíge. À noite a serra é escura como breu, mas os relâmpagos iluminam a montanha e podem ver-se até os grossos pingos de chuva a caírem com uma intensidade estonteante, as folhas das árvores adquirem nestes momentos uma cor azulada e os raios ziguezagueiam em queda livre esventrando a copa das árvores e logo são engolidos pela escuridão da noite que estremece com o ribombar do forte trovão! É um espectáculo. Temeroso, nostálgico, mas de uma beleza indescritível.
As trovadas são responsáveis pela maioria das queimadas (algumas são provocadas pela acção do homem), a faísca pega fogo a uma árvore ou ao capim e a estepe arde durante dias a fio. Também isto é um espectáculo, sobretudo à noite, ver a linha sinuosa do fogo subir e descer os montes lá longe… o fogo carboniza tudo o que se lhe atravessa no caminho, a flora e a fauna são engolidas com uma voracidade sem contemplação nem dó. Só o verde da floresta o consegue dominar pondo-lhe fim.
Eis outro acontecimento, nostálgico, da África imensa que retenho na memória para sempre.
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