segunda-feira, 29 de março de 2010

O HOMEM E O SEU OUTRO LADO...

Verso e reverso 
Estava uma tarde escaldante, debaixo de uma enorme mangueira abrigavam-se da canícula quatro homens, entre eles estava o Aloquete – um trabalhador assalariado ao serviço do quartel, um pouco mais velho do que nós, andava pelos vinte e seis anos – eu, que nesse dia estava de sargento de dia, aproximei-me e meti conversa, ou melhor, meti-me na conversa. O grupo discutia uma mensagem que o quartel havia recebido, há uns dias, do Governador e Comandante Geral de Angola cujo conteúdo era o seguinte: «informar as populações autóctones que tivessem tido lavras anexadas pelas fazendas dos colonos que apresentassem queixa, nas administrações civis ou nos quartéis, a fim de estas lhes serem devolvidas».
Pelo que me apercebi só o Aloquete tinha sido vítima desta situação, e perguntei-lhe:
– Então, Aloquete, também te anexaram lavras?
– Sim!
– E já foste apresentar queixa?
– Não!
– Não! Porquê?
– Não vale a pena – respondeu resignado!
– Conta-nos lá isso. – E, o Aloquete contou-nos então a seguinte história:
“Um dia apareceu na nossa aldeia, no Quimacuna, era eu pequenito, tinha oito anos, era o mais velho dos quatro irmãos, todos rapazes, o Sr. (chamemos-lhe) Vilhena, foi chamar o pai lá a casa, para este ir ao Sr. Administrador no Songo!
Era hábito naquela altura, quando um branco dizia que o preto tinha de ir ao Sr. Administrador, ter mesmo de ir! Mas o pai antes de ir chamou-nos (os três filhos) e disse-nos: «O Sr. António está a dizer para o pai ir no Sr. Administrador, mas é mentira, ele quer é ficar com as nossas lavras! Penso que ele vai matar o pai e atirar-me para o rio Lucunga! Mas antes, de o pai ir, quer que saibam que as nossas lavras ficam nos sítios X e Y. Há de vir um dia que vocês vão poder falar e, nessa altura, elas voltam para ti e para os teus irmãos»! Ele falava para mim por eu ser o mais velho. Depois abraçou-nos, despediu-se da minha mãe que chorava encostada à porta e, por fim, subiu para a caixa da Toyota do Sr. António”.
O Aloquete faz uma pausa, fixou o olhar em mim e disse:
– A verdade é que até hoje o meu pai nunca mais apareceu! E nós deixámos de ter lavras. Estão lá, integradas na fazenda do Sr. António.
– E então, com esta história, estás à espera de quê para te ires queixar e reaveres o que é teu e dos teus irmãos? – Perguntei intrigado.
– Não vale a pena! Sabe? Os meus pais já morreram e já não voltam, os meus irmãos foram para Luanda e eu também estou a pensar ir para lá! De maneira que não vale a pena. Já chega de maka, de guerra e de morte. Agora quero paz. Paz para sempre – concluiu o Aloquete.
Senti-me pequenino, perante a grandeza deste homem e a sua capacidade de tolerância, de perdoar e a fortíssima vontade de, com este gesto, fazer a paz. Olhei-o nos olhos e disse-lhe:
– Uma vez que pensas assim, quem sou eu para te dizer o que deves fazer? E, já agora, o que pensas acerca do futuro de Angola?
– Olhe, Furriel, as coisas não vão mudar assim muito para o povo. Quem tem dinheiro vai ganhar ainda mais, quem é pobre vai continuar a ser pobre. Como vê não tenho grandes ilusões, mas fico contente por Angola ser independente.
– Então quando chegar a altura das eleições, vais votar na FNLA? – Perguntei, abelhudo.
– Não. Na FNLA não. Nunca. Sabe o povo não esquece que quando a FNLA começou a luta armada, matou de igual modo brancos, pretos, mulheres e crianças. Roubou e saqueou tudo sem olhar a nada, nem a ninguém, fez uma razia. Isto, o povo não esquece. Como também não esquece que a UNITA foi criada, ou pelo menos ajudada, pela PIDE. Estas coisas ficam marcadas nas cabeças das pessoas e elas não esquecem. Assim, e para responder à sua pergunta, quando chegar a hora vou votar no MPLA.
– Mas é estranho, pois foi a FNLA quem começou a guerra de libertação e que lutou sempre aqui no norte de Angola, era normal que, a generalidade das pessoas votassem neles? Insisti.
– Sabe meu Furriel, há erros que uma vez cometidos, nunca mais se conseguem remediar e a FNLA cometeu um grave erro no início da luta armada, ao matar os pretos que trabalhavam para os brancos e ao saquear as aldeias. Quando houver eleições o MPLA vai ganhar, pode ter a certeza.

O Mundo seria bem diferente se todos pensássemos como o Aloquete! Porém, é da natureza humana, o homem é capaz de ser generoso e o seu contrário. Mas são homens como este, dignos, que devem merecer a nossa admiração e respeito.
Imagem: Internet

sábado, 6 de março de 2010

Ao fim de 35 anos aconteceu!


No passado dia 4 de Março, cinco ex-furriéis do Sul: Cardoso, Arménio, Chambel, Silva e Magalhães, juntaram-se num almoço e conviveram durante toda a tarde.
Naturalmente, este foi um almoço de recordações, onde a boa disposição esteve presente! E no final, concluímos que os 35 anos passados foram o parêntesis no nosso relacionamento que agora não desejamos interromper mais. Aguardamos ansiosos o próximo convívio alargado que se realizará em Maio.
Até lá, um forte abraço e não faltem.
PS: os camaradas que ainda não foram contactados, mandem-me um e-mail (sampaio.magalhaes@hotmail.com) e sê-lo-ão de imediato. Os outros aguardem que o Vaz, oportunamente, contacta-vos.
Fotografia: José Bule

José Bule/Uíge - 01 de Março, 2010
In Jornal de Angola, Online

População do Songo não cruza os braços

Apesar das inúmeras dificuldades a população do Songo arregaçou as mangas e está apostada em dar nova imagem à região.
"O desenvolvimento de qualquer localidade depende das vias de acesso", disse Costa Manuel, administrador municipal do Songo, tendo solicitado das autoridades competentes um maior apoio para que a estrada seja reabilitada o mais rápido possível.
A administração municipal do Songo já tem definidas as prioridades para desenvolver a localidade. Agricultura, reabilitação das vias de acesso, água e energia eléctrica são as grandes apostas do administrador Costa Manuel.

Agricultura

A população do Songo é maioritariamente camponesa. A mandioca, jinguba, milho, batata-doce, batata rena, feijão, banana, manga, gergelim, muteta, tomate, couve e cebola são os produtos mais cultivados na região.
O município controla um total de 909 cafeicultores, que, em 2009, promoveram acções de comercialização que atingiram cerca de 300 toneladas de café mabuba. No ano passado foi cultivada uma área de cerca de 179.544.5 hectares. A produção atingiu 304.942 toneladas. Sobre os níveis de produção, o sector tradicional foi o que mais contribuiu, com 88.982 toneladas.
A rede comercial é composta por 109 estabelecimentos, como lojas, armazéns, talhos, peixarias e farmácias, mas a maioria não funciona. Apenas 38 estabelecimentos comerciais, sendo 32 lojas, um armazém e cinco farmácias funcionam de forma regular no município.
No ano passado o Programa de Intervenção Municipal (PIM) permitiu a reabilitação, ampliação e apetrechamento dos edifícios da administração municipal e comunal. As residências do administrador municipal e da sua adjunta, para além da residência do administrador comunal, também foram reabilitadas e devidamente apetrechadas.

Energia eléctrica

A vila do Songo não tem energia eléctrica. Os habitantes recorrem aos meios alternativos, geradores, para terem energia nas suas casas e poderem ver os seus electrodomésticos funcionarem.
O problema da energia já se arrasta há mais de quatro anos. Em 2007 o município beneficiou de um gerador de 600 kva para abastecer a vila. Até hoje a empresa encarregue de fazer as ligações domiciliárias e substituir a antiga rede de distribuição, já obsoleta, não dá por concluído os trabalhos de restauro, aliás, há muito que os trabalhadores da mesma não aparecem para continuarem com as obras de restauro.
Costa Manuel, administrador municipal, disse que a energia constitui uma das prioridades, “pois o desenvolvimento do município depende deste bem”. Na localidade, foram colocados 351 postos de iluminação solar, que no período nocturno dão vida à vila, permitindo a circulação normal dos seus habitantes.

Água potável

Songo não tem água potável. A população consome água das cacimbas e dos rios, facto que contribui no surgimento de várias enfermidades, como são os casos das doenças diarreicas.
Tal como em relação a energia eléctrica, o administrador municipal, Costa Manuel, aguarda que haja disponibilidade financeira para que se possa fazer obras de restauro da antiga rede de distribuição de água, substituindo-a por uma nova, e alargando a rede para os bairros que circundam a vila.
Costa Manuel avançou à reportagem do Jornal de Angola que já existe um projecto de abastecimento de água por sistema de gravidade. O rio manzau, localizado a cerca de 15 quilómetros da sede municipal, vai sustentar o projecto.

Faltam escolas e professores

Onze mil e 243 é o número de alunos matriculados no presente ano lectivo. Deste número, cerca de 8.586 frequentam o ensino primário, 2.232 estão no ensino secundário. No II ciclo existem 425 alunos matriculados e pelo menos 245 adultos frequentam aulas de alfabetização.
O administrador municipal do Songo referiu que o município necessita de 245 salas de aulas, para descongestionar algumas escolas e permitir o enquadramento de mais alunos. Costa Manuel avançou que as novas salas devem ser construídas nas localidades de Lucala de cima, Kimalalo, Caricari, Kihinda, Macali, Cambale, 4 de Fevereiro, Kifuati, Kiangala, Kingonga, Kibala, Kiniangui, Kimenongue, Kinzau, Kicalanga, Puco, Pemba, Dibala, Kavunga, Quipemba, Zulumungo, Matenda, e na escola denominada “Tocoísta”.
Dos 776 professores colocados no município, 552 têm o nível básico, 201 são técnicos médios, 13 técnicos superiores e dois licenciados. O município necessita de mais de 200 professores, entre técnicos médios e superiores, para melhorar a qualidade do ensino na região.
Em relação à distribuição da merenda escolar, as escolas do Kimalalu, Kambal, Kiangala, Mbanza Luanda 1º, Mbanza Luanda 2º, Kassalamba, 1º de Maio, Zulumungo, 117, Kifuata, 4 de Fevereiro, Mbau 2º, e Tocoísta, que somam no total mais de cinco mil crianças, beneficiam deste programa.
Noutras escolas a merenda não chega devido a intransitabilidade das vias de acesso.

Também faltam enfermeiros

A rede sanitária é composta por um hospital municipal, um centro e 14 postos de saúde. Um novo posto de saúde está a ser construído de raiz, na localidade de Kavunga. A chefe de repartição municipal da Saúde, Elisa Mateus José, informou ao Jornal de Angola que a maioria dos postos de saúde não funciona por falta de enfermeiros. “Apenas cinco postos de saúde funcionam regularmente”, disse.
A responsável avançou que três médicos e 61 enfermeiros trabalham no município. Mas, segundo a fonte, Songo necessita de pelo menos mais dois médicos e 100 enfermeiros, para que o quadro sanitário seja melhorado.
No ano passado, o hospital municipal registou um total de 1.885 consultas externas, 1.366 consultas de pediatria, 386 de ginecologia, 101 de pré-natal, e 498 intervenções cirúrgicas. Foram também efectuados 208 partos na referida unidade hospitalar.
A malária, diarreias, tosses e as doenças respiratórias são as mais frequentes na região.
Songo tem uma extensão territorial de 2.800 quilómetros quadrados e uma população estimada em 36.798 habitantes. Localiza-se a 40 quilómetros a Norte da província do Uíge, fazendo limites a Norte com os municípios da Damba e Bembe, a Este com o Mucaba, a Oeste com Ambuíla e ao Sul com o município do Uíge.

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