Rio Lucunga - picada SONGO/QUIVUENGA - 1973/75 |
A CART 6553 está profundamente ligada a esta ponte, por maus e bons motivos. Quando chegámos ao Songo, ainda não havia ponte a ligar as duas margens do rio Lucunga (Songo Quivuenga). Estavam-se a iniciar os trabalhos preliminares para a construção da mesma.
Infelizmente, foi a falta desta importantíssima infra-estrutura que, logo no início, esteve na base da morte de um nosso camarada. A travessia do rio fazia-se a vau. As viaturas desviavam-se da picada, desciam a margem do rio e entravam na água até atingirem a outra margem, subiam-na e voltavam à picada. O motorista que tinha sido destacado do Batalhão de Carmona (Uíge) para ajudar na identificação das picadas, esqueceu-se da falta da ponte e, porque ia com alguma velocidade, quando se apercebeu, guinou o volante subiu a berma que era alta e a viatura voltou-se, tendo o infortunado camarada ficado com a cabeça esmagada pelo encosto do banco do unimogue.
Dava-se início, então, à construção da primeira ponte sobre o rio Lucunga que liga a picada do Songo ao Quivuenga. A segurança aos trabalhadores era feita pela Companhia do Songo que para lá fazia deslocar um pelotão diariamente e por um período de uma semana.
Os militares, ao chegarem ao local da construção, montavam um dispositivo de segurança, três secções (cinco homens cada) entravam na mata, que ali era composta por cafezais com as tradicionais árvores altas a fazerem-lhe sombra, e estabeleciam um perímetro à volta do local, nas duas margens do rio, enquanto a outra secção ficava a descansar. Depois iam-se revezando alternadamente por períodos de duas horas.
Os dias passavam-se lentos e monótonos sem nada acontecer. Até que numa ocasião, estava eu em cima da estrutura de madeira que iria receber o cimento, a olhar para o rio, quando às tantas me pereceu ver um ‘alfaiate’[1]! Chamei o P. Felgueiras (motorista) que estava perto de mim e pedi-lhe que olhasse bem para o local onde o suposto réptil se encontrava. O P. Felgueiras não necessitou de muito tempo para gritar “é um crocodilo! É um crocodilo!” A malta que estava de descanso passava o tempo a pedir para ir tomar banho, o que atendendo ao calor que se fazia sentir era compreensível. Claro está, a partir deste dia mais ninguém quis ir ao banho…
Um dia estavam os trabalhadores da ponte com um torniquete, que funcionava ali como uma espécie de sarilho, a puxarem uma viga de ferro (eram três as vigas que iram suportar o tabuleiro) para serem assentes nos pilares. Os trabalhadores já tinham colocado a primeira e estavam a iniciar a colocação da segunda. Isto era um trabalho moroso, uma semana para cada viga segundo o encarregado da obra. Eu pus-me a olhar para o trabalhador que, lento e monótono, lá ia movimentando o torniquete para a direita e para a esquerda vezes sem fim para conseguir que a estrutura metálica se movesse apenas uns milímetros. Às tantas bati com a mão na testa e disse ao encarregado da obra que com o ‘burro do mato’[2] podíamos puxar as vigas num instante! Estas viaturas tinham tracção às quatro rodas, possuíam um sarilho e, embora pequenas, tinham uma força descomunal. O encarregado, com cara de quem não acreditava muito no que lhe estava a ser proposto lá foi dizendo que podíamos experimentar… eu saltei para cima da viatura, os trabalhadores engataram o cabo que estava ligado ao guincho da viatura à viga e, em meia hora, as duas vigas que faltavam estavam sob os pilares da ponte. Um trabalho rápido e eficiente.
Apesar do infortúnio que foi a perda do nosso camarada, e também por isto, estamos sentimentalmente ligados a este lugar. Foi, pois, com tristeza que soube que esta ponte havia sido destruída aquando da guerra civil e, consequentemente, fiquei muito contente quando li que a ponte sobre o rio Lucunga fora restaurada e está novamente ao serviço do povo desta região.
[1] Nome dado pelos soldados aos crocodilos.
[2] Unimogue a gasóleo.
Infelizmente, foi a falta desta importantíssima infra-estrutura que, logo no início, esteve na base da morte de um nosso camarada. A travessia do rio fazia-se a vau. As viaturas desviavam-se da picada, desciam a margem do rio e entravam na água até atingirem a outra margem, subiam-na e voltavam à picada. O motorista que tinha sido destacado do Batalhão de Carmona (Uíge) para ajudar na identificação das picadas, esqueceu-se da falta da ponte e, porque ia com alguma velocidade, quando se apercebeu, guinou o volante subiu a berma que era alta e a viatura voltou-se, tendo o infortunado camarada ficado com a cabeça esmagada pelo encosto do banco do unimogue.
Dava-se início, então, à construção da primeira ponte sobre o rio Lucunga que liga a picada do Songo ao Quivuenga. A segurança aos trabalhadores era feita pela Companhia do Songo que para lá fazia deslocar um pelotão diariamente e por um período de uma semana.
Os militares, ao chegarem ao local da construção, montavam um dispositivo de segurança, três secções (cinco homens cada) entravam na mata, que ali era composta por cafezais com as tradicionais árvores altas a fazerem-lhe sombra, e estabeleciam um perímetro à volta do local, nas duas margens do rio, enquanto a outra secção ficava a descansar. Depois iam-se revezando alternadamente por períodos de duas horas.
Os dias passavam-se lentos e monótonos sem nada acontecer. Até que numa ocasião, estava eu em cima da estrutura de madeira que iria receber o cimento, a olhar para o rio, quando às tantas me pereceu ver um ‘alfaiate’[1]! Chamei o P. Felgueiras (motorista) que estava perto de mim e pedi-lhe que olhasse bem para o local onde o suposto réptil se encontrava. O P. Felgueiras não necessitou de muito tempo para gritar “é um crocodilo! É um crocodilo!” A malta que estava de descanso passava o tempo a pedir para ir tomar banho, o que atendendo ao calor que se fazia sentir era compreensível. Claro está, a partir deste dia mais ninguém quis ir ao banho…
Um dia estavam os trabalhadores da ponte com um torniquete, que funcionava ali como uma espécie de sarilho, a puxarem uma viga de ferro (eram três as vigas que iram suportar o tabuleiro) para serem assentes nos pilares. Os trabalhadores já tinham colocado a primeira e estavam a iniciar a colocação da segunda. Isto era um trabalho moroso, uma semana para cada viga segundo o encarregado da obra. Eu pus-me a olhar para o trabalhador que, lento e monótono, lá ia movimentando o torniquete para a direita e para a esquerda vezes sem fim para conseguir que a estrutura metálica se movesse apenas uns milímetros. Às tantas bati com a mão na testa e disse ao encarregado da obra que com o ‘burro do mato’[2] podíamos puxar as vigas num instante! Estas viaturas tinham tracção às quatro rodas, possuíam um sarilho e, embora pequenas, tinham uma força descomunal. O encarregado, com cara de quem não acreditava muito no que lhe estava a ser proposto lá foi dizendo que podíamos experimentar… eu saltei para cima da viatura, os trabalhadores engataram o cabo que estava ligado ao guincho da viatura à viga e, em meia hora, as duas vigas que faltavam estavam sob os pilares da ponte. Um trabalho rápido e eficiente.
Apesar do infortúnio que foi a perda do nosso camarada, e também por isto, estamos sentimentalmente ligados a este lugar. Foi, pois, com tristeza que soube que esta ponte havia sido destruída aquando da guerra civil e, consequentemente, fiquei muito contente quando li que a ponte sobre o rio Lucunga fora restaurada e está novamente ao serviço do povo desta região.
[1] Nome dado pelos soldados aos crocodilos.
[2] Unimogue a gasóleo.
Temos que começar a pensar no convivio deste ano que se raliza em Coimbra com o Camarada Gomes ( EX. Furriel Milº Mecanico ) á frente da organização. os Contatos dele são: 239403411 ou 919957954 força Camaradas vamos todos estar presente neste convivio de amizade.
ResponderEliminarCândido Silva . EX. Furriel Silva.